O presidente eleito, Jair Bolsonaro, afirmou ontem que encaminhará a reforma da Previdência de
forma fatiada ao Congresso Nacional. Ele disse que vai começar a fazer
as mudanças nas regras da aposentadoria pelo lado dos servidores
públicos — o que exige a aprovação de uma Proposta de Emenda à
Constituição (PEC). Ele defendeu ainda a fixação de uma idade mínima
para todos os trabalhadores. Sem entrar em detalhes, explicou que a
ideia é aumentar a idade mínima em dois anos, de forma gradativa,
mantendo uma diferenciação entre homens e mulheres.
— Na reforma da Previdência, a questão da idade é o que é mais
buscado. Nós queremos sim apresentar uma proposta de emenda à
Constituição, a começar a reforma pela previdência pública, e com chance
de ser aprovada. Não adianta você ter uma proposta ideal que vai ficar
na Câmara ou no Senado. Acho que o prejuízo seria muito grande. Então a
ideia é por aí, começar pela idade, atacarmos os privilégios e tocar
essa pauta para frente. A Previdência é uma realidade, ela cresce ano
após ano e não podemos deixar o Brasil chegar à situação que chegou a
Grécia para tomar providência — disse Bolsonaro.
Segundo auxiliares do presidente eleito, a proposta em estudo prevê
também que servidores públicos que ingressaram na carreira antes de 2003
tenham que atingir uma idade mínima para ter direito a integralidade
(último salário em atividade) e paridade (mesmo reajuste dos ativos).
Essa seria uma forma de reduzir privilégios e obter apoio popular para a
aprovação da reforma.
De acordo com interlocutores da transição, Bolsonaro avalia que o
fatiamento das mudanças no regime de aposentadorias facilita o processo
de aprovação no Congresso. Depois de aprovada a emenda à Constituição,
que exige quórum qualificado, o novo governo poderia implementar outras
mudanças por projetos de lei, que são mais fáceis de serem aprovados. No
entanto, esses interlocutores apontam que ainda não há martelo batido.
Perguntado se as propostas seriam enviadas de forma fatiada, Bolsonaro respondeu:
— Pode ser fatiada sim. Está bastante forte a tendência de começar pela idade.
Ele também se manifestou favoravelmente à distinção de idade de aposentadoria entre homens e mulheres:
— Da minha parte, por enquanto, o que está sendo discutido, continua mantida essa diferença.
A declaração do presidente sobre o fatiamento da reforma da
Previdência causou reações diferentes entre os especialistas. Para o
economista Paulo Tafner, que sugeriu à equipe econômica do novo governo
uma estratégia semelhante (junto com o ex-presidente do Banco Central
Arminio Fraga), o plano é vantajoso porque reduz o poder dos grupos de
pressão.
— Ao fatiar a reforma, o governo divide o problema por áreas. Poderá
fazer primeiro a reforma do regime dos servidores civis, o que exige
alteração da Constituição. Depois, poderá implementar mudanças nos
regimes de trabalhadores das Forças Armadas, dos policiais e dos
bombeiros, e da iniciativa privada via projetos de lei — destacou
Tafner.
Críticas à estratégia
No entanto, para outros especialistas, a estratégia revela que o
presidente eleito não está dando a devida atenção ao problema que
precisa ser atacado de uma só vez e de forma exaustiva. As opiniões
foram compartilhadas em grupos de discussão sobre a Previdência no
WhatsApp, contou Tafner.
A proposta enviada pelo presidente Michel Temer ao Congresso tinha
como objetivo fazer as mudanças nas aposentadorias via emenda
constitucional. O texto foi aprovado na comissão especial que tratou da
matéria, mas parou com as denúncias contra Temer, encaminhadas pelo
Procuradoria Geral da República (PGR).
Para fixar idade mínima no setor privado (INSS), no qual os
trabalhadores podem se aposentar por tempo de contribuição (de 35 anos,
para homens, e de 30, para mulheres), é preciso alterar a Constituição.
Sem isso, o problema das aposentadorias precoces continuaria ocorrendo.
Já se sabe também que o novo governo pretende desvincular os
benefícios previdenciários do salário mínimo e estuda antecipar uma
parte do auxílio para idosos e deficientes da baixa renda que não
contribuíram para o regime de aposentaria. Atualmente, este segmento tem
direito ao piso ao atingir 65 anos de idade.
Na segunda etapa da reforma fatiada, afirmam integrantes da
transição, poderia ser incluída também a criação de um regime de
capitalização para novos trabalhadores. Este modelo — no qual cada um
contribui para uma conta individual de aposentadoria — seria acompanhado
de uma mudança na forma de contribuição previdenciária, baseada
atualmente na folha de pagamento. A ideia é arrumar uma fonte de
recursos segura para arcar com o custo do regime atual, de repartição
(em que os trabalhadores na ativa financiam a aposentadoria dos mais
velhos), uma vez que o novo modelo retira receitas do sistema já que as
contribuições vão para uma conta individual.
Bolsonaro...
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