Jair Bolsonaro lidou com a primeira crise do seu governo com uma mistura
de onipotência e ingenuidade. Diante de um problema no qual ele e o
filho Flávio (eleito senador) não são investigados ou acusados de coisa
alguma, transformaram o silêncio em suspeita.
O suboficial Fabrício Queiroz, da PM do Rio, amigo do presidente,
motorista, segurança e assessor de Flávio, movimentou R$ 1,2 milhão em
13 meses. Fez 176 saques (cinco num só dia) e recebeu 59 depósitos,
todos em dinheiro vivo. Sete funcionários que estavam ou passaram pelos
gabinetes do deputado estadual Flávio e de seu pai fizeram depósitos na
sua conta. Dois eram parentes de Queiroz. Outro era um tenente-coronel
PM que trabalhou por 18 meses com Flávio e, durante esse período, viveu
248 dias em Portugal.
Queiroz pediu demissão do gabinete de Flávio Bolsonaro no dia 16 de
outubro, uma semana depois do primeiro turno. Ele teria feito isso para
cuidar de sua passagem para a reserva. No mesmo dia, foi afastada sua
filha Nathalia, que trabalhava com Jair Bolsonaro na Câmara dos
Deputados. (Fernando Haddad, derrotado na disputa pela Presidência,
levantou a suspeita de que a surpresa do Coaf tenha chegado ao
conhecimento de Bolsonaro, “no máximo, em 15 de outubro”.)
Durante uma semana os Bolsonaro reiteraram sua confiança em Queiroz, e o
senador eleito informou que ouviu dele “uma explicação plausível”.
Apesar da plausibilidade do que ouviu o senador eleito, Queiroz
manteve-se em silêncio e, pelo que se sabe, pretende falar ao Ministério
Público nesta semana.
Deixando-se de lado o piti do futuro chefe da Casa Civil, Onyx
Lorenzoni, que interrompeu uma entrevista ao ser questionado sobre o
assunto, Bolsonaro foi onipotente e ingênuo ao supor que o silêncio de
Queiroz poderia ser compensado por suas breves declarações. Tanto ele
como o filho repetiram que estão fora da investigação e quem tiver feito
algo errado deverá pagar. Até hoje, a questão é só uma: Cadê o Queiroz?
As bizarrices apontadas pelo Coaf nas finanças do amigo dos Bolsonaro serão estudadas pelo Ministério Público e a ele caberá decidir se há o que pagar.
Noves fora a disseminação do “Cadê o Queiroz?”, a malversação do episódio produziu um efeito colateral. Apareceram os “generais preocupados”. É conhecido o desconforto do vice-presidente Hamilton Mourão, mas os generais anônimos são um fator de verdadeira preocupação para paisanos e fardados. Bolsonaro é um exímio manipulador do que seria o pensamento de militares. Até sua eleição esse fator ventou a seu favor. Agora, poderia soprar contra. Para quem não gosta do presidente eleito, a brisa pode até ser motivo de alegria. O problema é que quando esse vento sopra, seja qual for a direção, arrasta tudo, inclusive a disciplina militar.
As bizarrices apontadas pelo Coaf nas finanças do amigo dos Bolsonaro serão estudadas pelo Ministério Público e a ele caberá decidir se há o que pagar.
Noves fora a disseminação do “Cadê o Queiroz?”, a malversação do episódio produziu um efeito colateral. Apareceram os “generais preocupados”. É conhecido o desconforto do vice-presidente Hamilton Mourão, mas os generais anônimos são um fator de verdadeira preocupação para paisanos e fardados. Bolsonaro é um exímio manipulador do que seria o pensamento de militares. Até sua eleição esse fator ventou a seu favor. Agora, poderia soprar contra. Para quem não gosta do presidente eleito, a brisa pode até ser motivo de alegria. O problema é que quando esse vento sopra, seja qual for a direção, arrasta tudo, inclusive a disciplina militar.
Cadê o homem seu moço?
O Globo
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