Com a perspectiva de um novo governo patrocinando projetos polêmicos — como a liberação do porte de armas , o enquadramento de movimentos sociais na Lei Antiterrorismo e oEscola sem Partido —,
parlamentares de diferentes partidos se articulam para tentar fazer do
Senado a “casa do equilíbrio” da República. Temendo a radicalização
nessas pautas, até senadores de PT e PSDB admitem se alinhar na votação
dos projetos.
As costuras passam pela escolha do presidente do Senado, no ano que
vem. Diferentes lideranças defendem um senador de perfil moderado, sem
alinhamento direto com o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), mas que
não faça parte da oposição a ele. Por trás desse discurso, a
articulação é para chegar a um nome com força para pôr freio a eventuais
extremismos na agenda do governo que provoquem tensionamentos sociais.
— Há muitos senadores novos cuja opinião não conhecemos, mas o
consenso entre os partidos é a favor de uma Casa moderada, que não faça
oposição sistemática. O governo foi eleito e o Brasil tem de ir para
frente. Tudo aquilo que for de interesse do país, vamos votar a favor.
Mas, também agiremos para que questões mais radicais sejam contidas aqui
e a gente mantenha o equilíbrio — diz o senador Tasso Jereissati
(PSDB-CE).
Assessores dos partidos na Casa calculam que, entre os 81 senadores,
Bolsonaro tem, por ora, uma bancada de cerca de 20 parlamentares de
partidos como o PSL, PSC, PTB e Podemos alinhados a ele. A tentativa da
legenda do presidente eleito é aumentar esse número.
A intenção das lideranças que defendem a necessidade de ter um Senado
capaz de barrar radicalismos é formar maioria junto com a “oposição
ferrenha” a Bolsonaro, e com senadores independentes, que admitem apoiar
o presidente eleito em parte da agenda econômica, mas não os projetos
considerados conservadores.
Oposição dividida
Com pretensão de se diferenciar do PT, o bloco em gestação liderado
pelo PDT, que reúne PPS, PSB e Rede, pretende fazer uma “oposição
propositiva”.
— Vamos ter de aceitar a agenda do Executivo, porque ele foi
referendado pelas urnas. Obviamente, não faremos uma aprovação
automática. Vamos aprimorar, questionar pontos e, com certeza, evitar
essas maluquices — diz o senador eleito Cid Gomes (PDT-CE).
O PSDB deve se reunir até o fim do ano para decidir sua posição sobre
o governo.
Independentemente disso, Tasso diz que senadores do partido
admitem conversas até com o PT em pautas com radicalismos:
— Com o PT, temos visões bastante diferentes na linha econômica. Mas,
em matéria de comportamento, é bem possível e provável que haja
alinhamento.
Os petistas também estão abertos a esse diálogo. O senador Humberto
Costa (PT-PE) disse à revista ÉPOCA que “não vê problema de termos as
mesmas posições (de senadores de partidos como PSDB e DEM) num
enfrentamento a Bolsonaro”.
A tentativa de dar ao Senado a feição de “poder moderador” passa
pelas articulações em torno do comando da Casa. A preferência é por um
nome que chegue com o discurso de que não atrapalhará o governo em
pautas importantes para o país, mas que dê aos senadores a segurança de
que enfrentará o grupo de Bolsonaro quando necessário.
Um dos nomes cotados por esses senadores contrários às pautas
radicais é o de Renan Calheiros (MDB-AL). Publicamente, ele já tenta se
colocar como um agregador. Questionado pelo GLOBO sobre a agenda
conservadora, ele desconversou, dizendo que “é preciso esperar os novos
senadores” e que a Casa pode colaborar com as propostas que “façam
mudanças que o Brasil quer”.
— O papel do novo governo é preponderante. O Parlamento deve fazer um
planejamento das matérias que devem ser votadas. Isso amadurece o
Parlamento. Quando necessário, é possível recorrer a referendos, como
fiz (como presidente do Senado, em 2005) sobre a vendas de armas.
Judiciário preocupado
Senadores relatam que, alarmados com essas propostas, representantes
do Judiciário têm manifestado a eles a necessidade de que o Senado seja
uma “casa de contenção”. O temor é de que o Judiciário se fragilize caso
tenha de assumir o papel de derrubar projetos aprovados.
Composto por políticos mais experientes do que os deputados, o Senado
tradicionalmente atua como uma casa de mais moderação. Sob a
presidência do próprio Renan, entre 2013 e 2016, deixou na gaveta
projetos polêmicos pautados pelo então presidente da Câmara, Eduardo
Cunha (MDB-RJ), como a redução da maioridade penal e a terceirização
irrestrita. O atual presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE),
manteve a mesma linha.
Detalhe: Esses são recados para o novo governo, ou negocia com o congresso ou será sempre derrotado, fica dito.
Detalhe: Esses são recados para o novo governo, ou negocia com o congresso ou será sempre derrotado, fica dito.
Senado na pauta.
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