Durante décadas a cúpula do governo militar negou a prática de tortura
contra presos políticos na ditadura. Não importavam as denúncias das
famílias, as marcas ou sequelas das vítimas. Quase 30 anos após o fim do
regime, surgem agora as primeiras provas documentais de que no auge da
repressão política — 1970 — o próprio general e então presidente da
República Emílio Garrastazu Médici sabia em detalhes sobre a violência
dos quartéis e suas consequências físicas e psicológicas.
Médici guardou até a morte, em meio a 32 caixas de
manuscritos, um caderno de capa de couro preta com o nome do
ex-presidente timbrado em letras douradas na frente. Dentro, a
revelação: três prontuários médicos de presas políticas atendidas no
Hospital Central do Exército (HCE). São elas: Dalva Bonet,Francisca
Abigail Paranhos, além dos documentos de Vera Sílvia Magalhães —
conhecida por sua participação no sequestro do embaixador americano
Charles Elbrick.
O arquivo pessoal de Médici, doado
pela família há 10 anos, integra o acervo do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro (IHGB) e foi disponibilizado para pesquisa da
Comissão da Verdade do Rio, que localizou os prontuários. “Quanto mais
temos acesso aos documentos, confirmamos que a cadeia de comando das
torturas e desaparecimentos começava no Palácio do Planalto”, afirma
Wadih Damous, presidente da CEV-Rio. Cópias dos documentos serão
entregues às famílias em audiência pública na próxima terça-feira.
O prontuário de Vera Sílvia detalha cada medicamento utilizado por ela
durante os dois períodos de internação registrados. Presa em 6 de março
de 1970, ela chegou pela primeira vez ao HCE transferida do Hospital
Souza Aguiar no dia seguinte devido a um “traumatismo craniano
encefálico por projétil de arma de fogo”. Tratada na unidade, ela foi
liberada dias depois para interrogatório no DOI-Codi.
Médici e o caderno onde guardava os relatos das sequelas das torturas de presas políticas no Rio.
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