O doleiro Alberto Youssef afirmou nos termos de sua delação premiada
que o então presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva teria dado
uma ordem em 2010 ao então presidente da Petrobrás, José Sergio
Gabrielli, para que ele resolvesse uma pendência com uma agência de
publicidade suspeita de integrar o esquema de corrupção na Petrobrás.
“O Lula ligou para o Gabrielli e falou que tinha que resolver essa
merda”, revelou o doleiro em um dos seus vários depoimentos que vem
prestando à Justiça a fim de tentar reduzir sua pena ao colaborar com as
investigações da Operação Lava Jato.
Youssef, que está preso sob acusação de integrar um megaesquema de
lavagem de dinheiro que envolvia contratos milionários da Petrobrás, não
deu detalhes sobre como ficou sabendo desse suposto telefonema.
No depoimento, Youssef afirmou que, depois da suposta ordem,
Gabrielli teria acionado o então diretor de Abastecimento da Petrobrás
Paulo Roberto Costa, outro personagem central do caso, e pedido para que
ele usasse “o dinheiro das empreiteiras e passasse para a agência”.
Empreiteiras são suspeitas de pagar pedágio ao esquema com o objetivo
de obter contratos da Petrobrás. Esse pedágio seria usado para
abastecer partidos da base do governo Lula e do governo da presidente
Dilma Rousseff, segundo disseram o doleiro e o ex-diretor da Petrobrás
em suas delações premiadas. A dupla implicou o PT, o PMDB e o PP. Costa
ainda afirmou que o PSDB, da oposição, recebeu dinheiro para ajudar
abafar uma CPI sobre a Petrobrás em 2009.
Repasses. A agência de publicidade que teria
recebido o repasse de empreiteiras, ainda segundo disse Youssef, é a
Muranno Marketing/Brasil. Trata-se de uma empresa suspeita de integrar o
esquema de propinas.
Segundo o doleiro, a agência tinha valores a receber e, em razão disso, ameaçava tornar pública a corrupção na Petrobrás.
Youssef não cita datas nem como foi feito o pagamento à agência. A
Polícia Federal, porém, identificou dois repasses, num total de R$ 1,7
milhão, à agência via MO Consultoria, empresa do doleiro. O repasse é
datado de 22 de dezembro de 2010. Houve ainda outros três depósitos à
agência, num total de R$ 509 mil, nos dias 12 e 13 de janeiro de 2011,
feitos pela empresa Sanko Sider, também investigada pela Lava Jato.
Ouviu dizer. Além do suposto telefonema entre Lula e
Gabrielli, o doleiro fez outras referências a Lula e à suposta ciência
do Palácio do Planalto em relação ao esquema: “Todas as pessoas com quem
eu trabalhava diziam o seguinte: ‘todo mundo sabia lá em cima, que
tinha aval para operar. Não tinha como operar um tamanho esquema desse
se não houvesse o aval do Executivo. Não era possível que funcionasse se
alguém de cima não soubesse, as peças não se moviam”.
O doleiro também disse no depoimento da delação: “Era impossível o
Lula governar se não tivesse esse esquema. O Lula era refém desse
esquema”, afirmou. Como exemplo, citou o episódio da disputa pela
Presidência da Câmara dos Deputados em 2005. Na ocasião o PT queria no
cargo o então deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), mas teve que se
curvar à exigência de José Janene (PP-PR), que morreu em 2010 e é
apontado como a ponte entre o esquema e o Congresso. Na época, Janene
teria imposto o nome de Severino Cavalcanti (PP-PE) para o comando da
Câmara. Cavalcanti acabou eleito.
Youssef é apontado como sócio de Janene e suposto criador do esquema
de propina na Petrobrás comandado pelo PP. O doleiro, que ainda não
teve a delação homologada pela Justiça, diz que ainda apresentará provas
sobre suas declarações. O esquema teria atuado entre 2004 e 2012,
período em que Costa esteve na diretoria de Abastecimento da Petrobrás.
COM A PALAVRA, A DEFESA:
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva informou, por meio de sua
assessoria de imprensa, que “não comenta vazamentos parciais de delação
premiada, nem depoimentos aos quais sequer teve acesso”.
O ex-presidente da Petrobrás (2005-2012), hoje secretário de Estado
de Planejamento da Bahia, José Sergio Gabrielli, rechaçou com veemência
as informações do doleiro Alberto Youssef em sua delação.
Por meio de sua assessoria, Gabrielli assegura que jamais tratou de
eventuais problemas de pagamentos a agências de publicidade com o
doleiro, alvo da Operação Lava Jato, “ou com qualquer outra pessoa”.
Gabrielli esclareceu, ainda, taxativamente, que “não conhece o senhor
Alberto Youssef e nunca teve qualquer tipo de contato presencial ou
telefônico com ele ou com pessoas ligadas às suas empresas”. Para o
ex-presidente da Petrobrás, “as falsas informações atribuídas à delação
premiada do doleiro são uma tentativa desesperada de interferir no 2.º
turno das eleições”.
“Os advogados do ex-presidente já analisam medidas judiciais cabíveis
para reparar as acusações infundadas divulgadas”, destacou a
assessoria.
A Muranno Marketing foi procurada nos contatos disponíveis e ninguém foi localizado.
O criminalista Antonio Figueiredo Basto, que comanda o núcleo de
defesa de Youssef, argumentou que não pode comentar o depoimento de seu
cliente no âmbito da delação premiada porque ela é protegida pelo
sigilo. Ele afirmou que Youssef nunca citou a ele os nomes da presidente
Dilma e do ex-presidente Lula. “O Beto (Youssef) me disse apenas que
tudo ‘vinha lá de cima’, Lamento que esse clima de eleição está gerando
loucura no Brasil, muita especulação.”
Basto diz suspeitar que o vazamento da delação “é obra de algum grupo
econômico que quer ‘melar’ a delação”. “Eu não posso desmentir nem
confirmar (os dados da delação) porque a defesa não ficou de posse dos
depoimentos.”
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